Prato gigante de rúcula, alface, agrião e algumas rodelas de tomate. Ao final, estomago cheio e desejo não satisfeito. A mente passeia por imagens de carnes, massas, peixes e deliciosas sobremesas calóricas. Essa é a sensação que tenho após uma conversa num Chat. Faltam cheiros, toques e trocas de olhares. Só palavras não bastam para saber se a amizade sobreviveu à distância e ao silêncio. É preciso ver nos olhos para ter a certeza de que a declaração de saudade é corroborada por um leve umedecer. É preciso o abraço para confirmar o amor declarado.
Os relacionamentos de hoje estão em dieta. E para chegar ao “corpinho” ideal precisamos controlar o uso de um dos fatores que responde pela principal causa da “obesidade relacional”: a comunicação verbal. Qualquer site de relacionamento tem cursos práticos para iniciar a pessoa ainda inepta na nova linguagem. Na verdade, aprende-se da maneira mais eficaz: na prática. Começa-se assim: Olá meu querido amigo, tudo bem com você? Há muito tempo que nós não nos falamos... Com o tempo a pessoa se aperfeiçoa e aprende a queimar “caloria verbal”. Trocamos as caminhadas ao longo do calçadão da orla por cômodas esteiras adequadas ao espaço dos nossos quartos e, para aumentar a eficácia, ingerimos pílulas que prometem fazer milagres. Trocamos o tempo gasto em conversas fartas por mensagens de texto já previstas no cardápio das operadoras de telefonia. A coisa fica mais ou menos assim: Aê blw, de boa, to na área... E então você se insere de vez no universo da virtualidade. Aí é só manter o regime de palavras e serás feliz(?).
Receio que nossa sociedade ainda se ressentirá da corrida frenética pela magreza verbal. Essa cultura da virtualidade vai lamentar profundamente sua fuga em direção ao outro distante. Muitos sinalizando sua disponibilidade através de um pontinho verde na coluna da direita e outros num animado bate-papo aparecendo na barra horizontal da tela do laptop; ninguém pra apertar a mão. Solidariedade virtual: Voce chora daqui, ele chora de lá; depois encerramos nossas páginas nas redes sociais e dormimos candidamente. Para alguns, ainda resta a companhia de um cachorro…
AFA Neto