Bem, vejamos: como nossa vida é regida pelas datas do comércio, o Natal tem começado cada ano mais cedo. Isso significa que, logo logo, Papai Noel terá trabalho o ano todo. Estará sob sua responsabilidade providenciar presentes para o dia dos namorados, dia do amigo, dia das mães, dia dos pais e segue-se “ad-infinitum”. Ele precisará ampliar seus conhecimentos do gênero humano, pois as datas propostas atendem a um público diferente daquele do Natal.
Aí surge meu primeiro problema com o anúncio. Para uma tarefa tão árdua e exigente, um Papai Noel com ensino fundamental iniciado não dará conta. Precisaremos de uma qualificação melhor para nossos velhinhos de barbas brancas. Sugiro que as faculdades comecem a montar um curso de graduação para formar Papai Noel. No currículo constarão disciplinas relativas à impostação da voz para capacitá-los a dar aquela risadinha ridícula, além de técnicas de abordagens aos clientes. Em pouco tempo esse será um dos cursos mais procurados e concorridos. A mãe orgulhosa fará questão de compartilhar com as amigas que seu filho se formou em Papai Noel. Mas o maior benefício será mesmo o mercado aberto para pessoas acima dos sessenta anos. O governo certamente apoiará a iniciativa.
Já tinha iniciado minha viagem mental quando me dei conta de que havia algo ainda mais problemático. O anúncio exigia 06 (seis) meses de experiência. Que critério seria usado para mensurar esse tempo de experiência? Será que um Papai Noel que estreou no último Natal já está apto para a função? O último natal ocorreu há mais de oito meses. Ou será que o candidato precisaria ter seis meses de atuação enquanto Papai Noel? Se levarmos em conta que, na melhor das hipóteses, um Papai Noel atua por ano cerca de 1 (um) mês, ele levaria 06 (seis) anos atuando como bom velhinho, para adquirir uma experiência de 06 (seis) meses.
Aterrissei. Vou continuar sacerdote. Tudo bem que hoje quase ninguém acredita mais em bom velhinho e em pastor. Mas ser Papai Noel pode ser muito confuso e não conseguir fugir do ridículo. Pelo menos como pastor tem-se a possibilidade de optar pela decência.
AFA Neto