A adesão à cultura da superficialidade cobra de nós um preço indigesto. Confundimos as partes com o todo. Tomamos Baghdadi (autodenominado Califa do EI) como sinônimo de Islão, Wahhabistas e Salafistas como sinônimos de Muçulmanos e o próprio EI como a totalidade do Islamismo. Não nos damos as trabalho de compreender, ainda que minimamente, que estas pessoas, seus movimentos e sua ideologia sequestram a religião e buscam nela legitimação para a violência. A mesma lógica, aliás, que sempre norteou cristãos, budistas, xintoístas, e tantas expressões religiosas quanto nossos dicionários de religião forem capazes de catalogar. Mas para nós ocidentais cristãos parece que é conveniente tal confusão. Afinal, é mais fácil dividir o mundo entre nós e eles do que pensar seriamente na complexidade das relações interpessoais e o papel que a religião exerce em tais relações. Somos do bem e eles são do mal. Simples assim!
Simples, burro e perverso.
Esse "show" de horrores que temos presenciado ultimamente não é, nem de longe, expressão do que representa o verdadeiro Islamismo. Pelo contrário, é a mais clara negação dos princípios do Islã. Da mesma forma que as fogueiras das Inquisições católicas e protestantes de ontem e de hoje não representam o verdadeiro cristianismo que deve se pautar pela prática e pelas palavras de Jesus. A maldade endêmica do ser humano vai se manifestar com ou sem religião, mas quase sempre ela busca legitimação religiosa. E quando isso acontece não podemos condenar a religião em decorrência da farsa daqueles que a professam.
Para não alongar mais, cabe a cada um o exercício básico de conhecer melhor esses movimentos e perceber as terríveis semelhanças entre nós e eles. Para surpresa de alguns, constataremos que somos muito parecidos nos acertos e nos desacertos do que desejaríamos.
E fica o alerta: temos nossos Wahhabistas e Salafistas com outros nomes. Todos eles com a bandeira da volta aos fundamentos da verdadeira e pura fé dos fundadores como antídoto contra a apostasia dos infiéis. Olha um pouco à sua volta e você verá que nossa fábrica de Baghdadis, Saddams e Osamas, não deixa nada a desejar aos radicais do deserto.
Afa Neto