“Tire o seu piercing do caminho que eu quero passar com a minha dor... O presente não devolve o troco do passado; sofrimento não é amargura; tristeza não é pecado; lugar de ser feliz não é supermercado”. (Zeca Baleiro)
“Tudo que procuramos é ter respostas; mas Deus não nos dá respostas, nos dá a sua presença e nos pede para exercitar a fé e confiança nEle”. (AFA Neto)
É do poema colocado nos lábios de Elifaz, um dos amigos do personagem bíblico Jó (no capítulo quatro do livro de Jó), que vamos encontrar quatro intuições ‘preciosíssimas’ sobre o processo de resgate do prazer pela vida.
Na época do domínio incontestável do capital, a solução proposta no texto bíblico não é aquisição e sim supressão. Na época do cartão de crédito como remédio para a angústia, a Bíblia propõe a renúncia.
O drama de Jó antecipa o drama de muitos de nós: descobrir que posse não gera prazer. Mas a escassez também não o faz. A beleza da existência continua acessível àqueles que conseguem proceder com essa difícil síntese: despir-se de algumas tralhas e vestir as roupas da simplicidade.
Para recuperar o prazer pela vida precisamos começar procedendo com alguns sacrifícios.
SACRIFIQUE O ORGULHO ASSUMINDO SUAS FRAGILIDADES
Para o modelo de conselheiro a vida reservou a necessidade de consolo. As palavras iniciais de Elifaz expõem a humanidade de Jó. “Sob a provação do sofrimento, Jó mostra que não é diferente dos outros homens”.
Pessoas que se sentem bem em ajudar, mas odeiam a idéia de serem ajudadas. Síndrome do Mestre – nunca acham que precisam aprender.
Assumir suas fragilidades não significa se render a elas. Significa que existem limitações que nos são inerentes, que não estamos isentos de ser acometidos pelos males da existência, que somos mortais e frágeis. Significa, também, que Deus nos criou como seres humanos e, como tais, capazes de ser felizes.
SACRIFIQUE SEUS MÉRITOS ASSUMINDO SUA IMPERFEIÇÃO (INCAPACIDADE)
Aqui, somos confrontados de maneira mais acentuada com uma lógica muito perversa quando aplicada ao nosso relacionamento com Deus e, infelizmente, muito difundida: a meritocracia. Samuel Terrien chama isso de “confiança na integridade”. Enquanto no catolicismo e no espiritismo a meritocracia se manifesta na teologia das obras meritórias, no protestantismo ela se manifesta nos méritos morais.
A vida nos envergonha seguidamente quando tentamos aplicar essa lógica: Se eu fizer tudo certo; se seguir o manual conforme descrito nos dogmas, tenho tudo para me dar bem.
Assumir nossas imperfeições é reconhecer o caráter precário das nossas construções. É saber que nos nossos melhores momentos ainda estaremos muito aquém daquilo que pode ser perfeito.
É saber que Deus não exige perfeição; incentiva o progresso.
SACRIFIQUE SEU SENSO DE JUSTIÇA ASSUMINDO A JUSTIÇA DIVINA
É impossível nos despir por completo do nosso senso de justiça. E esse senso nos é útil em muitas situações da existência. O problema é quando o projetamos em Deus e passamos a julgar todas as coisas à luz desse nosso senso de justiça.
Constantemente recorremos àquela velha ladainha: mas isso não é justo.
O que é que nós sabemos de justiça? Deus é a expressão perfeita de justiça e esta é exercida com amor.
SACRIFIQUE SUA VISÃO DE MUNDO ASSUMINDO A ÓTICA DIVINA
A maneira como vemos as coisas pode determinar nossa postura em relação à vida.
O poeta via um mundo de regras. Jó estava vendo um mundo que conspirava contra ele. Deus via um mundo sob seu controle e coordenava todas as coisas para o bem daqueles a quem ele amava.
Mt 6.22: “São os olhos a lâmpada do corpo. Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso; se, porém, os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em trevas”.
A pergunta deve ser: Como Deus vê a vida?
Genesis 1.31 responde isso: “Viu Deus tudo quanto fizera e eis que era muito bom”.
AFA Neto