Acordei e logo vi minha identidade em crise. Todo foi desencadeado pela notícia de que metade do Brasil tem um dono. Já vi e ouvi falar de muitos donos do que não se tem, mas desta vez fiquei surpreso. Já conheci e conheço muitos donos de igrejas; desde aquelas locais até denominações inteiras. Já soube de alguns donos de partidos políticos; desde os de aluguel até aqueles que são protagonistas. Já conheci donos de pessoas; desde aqueles que mandam no cônjuge (geralmente esse papel é reservado, de fato, às mulheres) até aqueles que dominam as massas. Sei até de pessoas que mandaram e outros que continuam mandando em cidades e estados inteiros. Exemplos recentes podem ser evocados nos casos da Bahia de ACM e do Maranhão de Sarney.
A surpresa veio via Agência Estado e a notícia de que, pelas bandas do Pará, foi registrado num cartório local uma fazenda equivalente à metade do Brasil.
Pois é, se você não sabia precisa tomar conhecimento logo. Metade desse país é terra de ninguém e a outra metade é de um fazendeiro. Metade todo mundo manda e não tem nada e a outra metade uma única pessoa manda e todos pagam aluguel.
O problema é que ainda não se sabe a demarcação exata do que é público e do que é privado. Como o registro não especifica os limites precisos desta ‘modesta’ fazenda, não sei a que Brasil pertenço. Daí veio minha crise de identidade. Sou público ou sou privado? Sou livre ou escravo? Dono de mim mesmo ou propriedade de alguém? Moro no campo ou na cidade?
Estou tentando resolver isso procurando algumas coisas comuns aos dois Brasis. Tentando me convencer que tanto faz morar no emergente sul-americano ou no latifúndio de um truculento do norte do país, tentei elencar coisas que acontecem lá e cá (ou seria cá e lá?).
Nos dois tem Lula com popularidade estratosférica, mas com o candidato da oposição apontado como o próximo presidente. Tanto em um quanto em outro tem Bolsa Família minorando o mal e criticado nos parlamentos, mas incensado por gestores de todos os recortes ideológicos. No público e no privado tem o milagre de um futebol sem a menor estrutura continuar gerando tantos bons jogadores. Em ambos somos obrigados a assistir a uma programação televisiva que espetaculariza a miséria, vulgariza tudo e emburrece a todos. Nos dois reinos tem Edir Macedo, Estevam Hernandes, RR Soares, Silas Malafaia, apóstolo Valdemiro e outros de igual envergadura mercadejando a fé. Tem também bispos, apóstolos e patriarcas de egos incontidos tentando nacionalizar suas canalhices à maneira dos seus pares supracitados.
Paremos por aqui.
Paremos por aqui.
AFA Neto