Quem podia comprava frutas e verduras já na sexta-feira à tarde. Podia-se ir no sábado cedinho que ainda encontrava coisas frescas e de boa qualidade. As melhores carnes, o feijão novo e fácil de cozinhar, o andu, o feijão de corda e o mangalô (que quase sempre comíamos nos sábados lá em casa). Mas, isso tinha um preço. Comprar na sexta e no sábado cedinho era mais caro e nem todos podiam. Alguns preferiam ir no início da tarde do sábado, o que significava mais economia. Outros, completamente desprovidos de recursos, tinham de se aventurar no final da tarde e sair à cata de produtos refugados pelos clientes mais abastados. O lance era o seguinte: alimento perecível não tinha como retornar com o feirante, então o jeito era vender a qualquer preço para amenizar o prejuízo. A manha de barganhar corria solta. O feirante tentava “empurrar” o produto a qualquer custo. O problema era que os melhores produtos, a esta hora, já “povoavam” as geladeiras das madames.
Recordo desse traço da vida das famílias lá em Ruy Barbosa, não somente porque convivi com isso toda a minha infância e adolescência, mas também por ter conversado com um amigo, semana passada, sobre a Igreja. Mas, o que tem a ver igreja com feira livre? Tudo. Explico: Fábio contou-me sobre algumas situações vividas por ele no exercício do seu pastorado onde concluiu que estamos vivendo uma espécie de “síndrome do final de feira” no trato com a igreja. Que a comunidade dos santos sempre foi lugar para agregar gente desajustada se confirma pelo fato de que lá estamos eu e você. Mas, às vezes esses desajustes se manifestam de forma mais doentia do que suportamos. É o caso daqueles e daquelas que tratam a igreja como o lugar ideal para suprir todas as suas carências afetivas. Pessoas a quem a igreja deve dedicar atenção exclusiva e “full time”. Ao menor sinal de desatenção o(a) irmão(ã) se sente completamente desprezado(a) e some por algumas semanas da igreja. A partir daí essa pessoa passa a esperar que o pastor (preferencial ou exclusivamente) ou alguém da igreja pare sua vida para ir paparicá-la.
O problema maior é o fato de que esse barateamento da igreja já está posto como fato consumado entre os irmãos. Oramos pedindo a Deus que nos sensibilize para irmos à busca do irmão “desprezado”, pressionamos o pastor para que ele faça uma visita e negocie valores para atrair a irmã de volta à igreja, etc. A lógica que subjaz a esta postura é a de que a igreja precisa dessas pessoas e não o contrário. É a pressão dos números e das estatísticas no final do ano. É a síndrome do final de feira a que se referia o Fábio. Tentamos empurrar os produtos eclesiásticos em clientes carentes emocionalmente. Fazendo assim, passamos a ideia de que a igreja é produto, é bem de consumo. Desvalorizamos o ministério e a importância da Noiva de Cristo.
Não tenho mais paciência para lidar com gente assim e nem pretendo perder o meu tempo com comunidades que não se dão o devido valor. Não esperem que gaste meus neurônios elaborando argumentos para convencer gente mimada de que a “minha” igreja é a melhor para ela freqüentar. Aprendi no Evangelho que devo parar minha vida, quantas vezes for preciso, para sair em busca das ovelhas que foram verdadeiramente feridas na caminhada. Entretanto, seria irresponsável dedicar meus esforços para atender à pressão daqueles que acham que devo procurar gente ingrata e que só quer ser mimada.
Agradeço a Deus pela igreja. Nela tenho educado meus filhos e tenho encontrado uma rede de acolhimento sincero. Nunca desejei ser mimado e nunca fui, pois sei que esse não é o papel da igreja. Sempre quis encontrar amizades verdadeiras e atualização dos gestos salvíficos e, graças a Deus, encontrei. De resto carrego comigo a certeza de que a Igreja é muito preciosa para ser tratada como produto de final de feira.
AFA Neto
Hei AFA gostei muito do texto....e aproveito tb para Parabeniza-lo pelo sermão de Domingo tem sido muito abençoador para minha vida espero que: "Quem tem ouvidos ...ouça" um abração
Indy
Querido pastor,
Faz tempo que não leio seu Canteiro, mas saiba que gosto muito de sua palavra, lida, falada e vivida. Um grande abraço,
Rosana
Eu tenho aprendido muito com você Pastor e sei que é muito dificil deixar o mingau e começar a se alimentar das coisas do Espirito sozinho.A igreja é lugar de cura e não de doença de amor Amor e não de ciumes bobos.
Deus te abençõe mais e mais.
Estou com você pode contar comigo sempre.
Concordo que a igreja é lugar de gente desajustada,afinal o própio JESUS disse ter vindo para os doentes(Marcos 2:17). O grande problema é: gente que tem tudo pra ser sadia preferindo ser doente; isso ninguem merece.
Vou chamar esse breve comentário de: "gente de final de feira" rsrsrs...
Um abração Pastor!!!
...corajoso e desafiador esse seu texto Sr. AFA Neto...
Deveria ser postado em um hot door, pra que todos os "coitadinhos rejeitados" pela Igreja pudessem ler...
Gostei demais...
Vai para o meu arquivo de preciosidades...
Pastor, muito me agrada ler esse tipo de comentário, afinal o que aprendi é que não temos que agradar a homens e sim ao Senhor nosso Deus e eterno pai!
Pastor NETO,
O MAIOR MIMO QUE O CRIADOR PODERIA NOS DAR FOI UM MiMO DE DOR E SOFRIMENTO QUANDO COM SEU PROJETO DE SALVAÇÃO PERMITIU QUE SEU ÚNICO FILHO PASSASSE POR TUDO QUE PASSOU POR NÓS QUE NADA, ABSOLUTAMENTE NADA MERECíamos, NEM MERECEDORES SEREMOS. QUE OS VERDADEIROS DOENTES SE APRESENTEM E OS MIMADOS INTEPRETEM A PALAVRA COM O CORAÇÃO E A LUZ DO SENHOR. MESMO ASSIM SOU FELIZ EM VER QUE MESMO SABENDO DE TUDO ISSO, ÉS UM PASTOR QUE PASSA MENSAGENS COM AMOR E ROGO A DEUS QUE SEMPRE FALE ATRAVES DO SEU SERVO. PASTOR NETO SUAS MENSAGENS TEM SIDO BÁLSAMOS PARA MIM MESMO QUANDO SINTO MAIS FORTES MAS SEI QUE É O SENHOR JESUS NOS TRATANDO COM AMOR ATRAVÉS DA SUA VIDA. CONTINUE FALANDO DO AMOR DE DEUS MESMO QUE NÃO SEJAM PALAVARAS DOCES, SEI QUE ÉS UM VASO QUE DERRAMA O AMOR DE DEUS ATRAVÉS DE SUA LUTA, EXEMPLO E PALAVRAS. UM ABRAÇO FRATERNAL E COMO SERVA DO SENHOR COM AMOR E POR AMOR QUERO COMPREENDER O QUE O SENHOR QUER PARA MIM E MESMO SE NÃO FOR FÁCIL QUERO SEGUIR OS PASSOS COM ELE E POR ELE. FIRME NA CAMINHADA......
BETE
Pastor por experiência própria acho que muitas igrejas não estão muito interessadas em cristãos problemas, pessoas que estão enfrentando crises familiares, pessoas com problemas existenciais pois muitos pastores acham e realmente não são psicólogos.
Mas as pessoas estão carentes, sofridas e sedentas de um ombro amigo e de palavras confortadoras.
As igrejas querem pessoas prontas para estarem na obra, seja louvando, mantendo a igreja limpa, arrecadando dinheiro para alguma construção. Embelezando a igreja e deixando bancos vazios. Acho que dentro das igrejas nos achamos tão sozinhos, pois os irmãos estão tão voltados para seus propósitos que nem percebem o sofrimento do outro.
Alguns fazem aquela visitinha pra desencargo de consciência e esquece na outra semana que aquele irmão está precisando dele.
Infelizmente só Jesus é capaz de se preocupar com a ovelha perdida
Eu tenho me afastado da igreja para não ser a cristã problema da minha igreja pois é assim que eu me sinto. Sei que as palavras de Deus são verdadeiras e as vezes duras e que o pastor não sobe ao púlpito para dizer o que o cristão quer ouvir. Mas as vezes estamos tão fragilizados que entramos na igreja tristes e infelizes e saimos piores. Pois levamos tantas chibatadas das pregações que até nos perguntamos se Jesus pregava de forma tão agressiva a ponto de fazer um ser fragilizado pelas dores da vida sairem com a auto estima lá no pé.
" Quando a chuva passar e o tempo abrir" quem sabe eu volte e possa ser a cristã que a igreja deseja?
Desculpe as duras palavras mas é assim que me sinto hoje.
Fátima Borges de Barros.