Ele veio e trilhou o caminho que lhe estava proposto. E o fez numa construção que lhe caiu muito bem. Prazeres e dores, alegrias e tristezas, assédio e solidão, vitórias e fracassos, mas tudo como Ele escolhera. Os condicionamentos existiam, os estereótipos também. Os apelos populares se multiplicavam e as elites tinham as suas expectativas, mas Ele resolveu ser Ele mesmo. Teceu a sua história com determinação e de maneira apaixonada. Como um habilidoso tecelão que cruza as linhas para formar uma bela peça de arte, Ele entrelaçou palavras e gestos de maneira que as duas pareciam uma. Muita vezes sua vida não pareceu bela aos olhos de quem não era afeito ao novo, contudo a duplicidade não tinha parte na sua história.
Sabia o que lhe esperava porque sabia o que queria; e sabia o que queria porque escolhera querer daquela forma. Não chegou aqui munido de mapas e roteiros minuciosamente detalhados, o coração lhe guiou até onde deveria ir. E foi ao encontro do amor sufocado nos corações e nas relações daqueles com quem conviveu. Falou como quem entoa canções de amor, seduzindo mentes e almas. Desafiou pessoas a deporem as armas para empunhar o afeto como arma de conquista.
Aguardou quando todos achavam que era hora de agir, recuou quando os presentes queriam o confronto, beijou quando esperavam um tapa e surrou quando esperavam declarações afáveis. Quando a iminência do sucesso seduziu os companheiros de jornada, Ele resistiu antevendo a derrocada de se trilhar um caminho baseado em conquistas efêmeras e frívolas. Quando a notoriedade tentava lhe enredar, os desertos lhe pareciam muito mais sinceros. Desertos tem a incrível capacidade de povoar a alma dela mesma e somente dela. Quando os muitos nos privam de nós mesmos, os desertos restituem os nossos “eus” para deles construirmos nossa identidade. E a identidade dEle era singular, conquanto desconcertadamente comum.
A estética do exterior nunca recebera dEle um tratamento especial. Sem conhecê-Lo era impossível ver nEle alguma beleza. Quem acharia beleza em alguem que podendo ter tudo por tudo ser, optou por comungar da abjeta humanidade? Viu a beleza extravagante dos tons pastéis da Palestina visitada pelos primeiros raios do sol e com ela a sensação de que a vida vale a pena. Viu o declinio do sol e com ele a chegada da penumbra invadindo a sua alma, num anúncio lúgubre de que a vida nem sempre é amistosa.
Sem privilégios, mergulhou na história para sorrir e chorar, banquetear e jejuar, para viver e para morrer. E morreu…
AFA Neto
Muito interessante, que DEUS sempre continue a inspira-lo desta forma, para que todos os dias escreva palavras verdadeiras que edificam o próximo.Parabêns