Cada pessoa tem um mundo duplo: aquele que se manifesta pelo que fazemos e pelo que pode ser observado por outros e aquele que se esconde dentro de nossos sentimentos, emoções, pensamentos, desejos, etc. O primeiro é comumente chamado de mundo exterior e o segundo de mundo interior. Estes dois mundos guardam tantas diferenças que, por vezes, parecem estar em completa desarmonia. Existem pessoas que aparentemente estão perfeitamente ajustadas, equilibradas e felizes, quando, na verdade, se debatem com lutas terríveis só conhecidas e sentidas por elas mesmas ou por alguém próximo a elas. São seres que construíram um mundo exterior sem cuidar do que vem de dentro.
Quando o Sábio bíblico nos recomenda a “guardar acima de tudo o coração, porque dele procedem as fontes da vida”, ele sabe muito bem que um mundo equilibrado se constrói de dentro para fora e não o contrário. Daí, podemos concluir que um percentual significativo de pessoas está às voltas com problemas de desajuste emocional, social, econômico ou de qualquer outra matriz, por estarem com o seu mundo interior em desordem.
Apesar de diferentes, cada mundo exerce muita influencia sobre o outro, de forma que o que acontece no nosso mundo exterior pode servir de mapa para se fazer um diagnostico de como anda o nosso mundo de dentro. Numa sociedade como a nossa, algumas posturas celebradas como qualidades podem ser sintomas de desajuste interior. Por exemplo:
1. Pessoas que só conseguem se satisfazer quando vêem o trabalho realizado, sem encontrarem prazer no progresso obtido ao longo da caminhada;
2. Pessoas obcecadas com a idéia de realização;
3. Pessoas dominadas pela busca de superação;
4. Seres que começam a desprezar o principio de honestidade, transformando os relacionamentos numa aventura de dissimulação;
São alguns dos sintomas do caos interior que domina grande parcela das pessoas nos nossos dias.
Essa fragmentação da existência tem produzido um comportamento esquizofrênico que, vez ou outra, se manifesta de maneira horripilante em nossa sociedade. Pessoas aparentemente normais podem se revelar assassinas cruéis, culpando o mundo por seus desajustes e “purificando” esse mesmo mundo pela via da chacina de inocentes indefesos.
Quero melhor distribuição de renda, ascensão social, diminuição do fosso que separa ricos de pobres, igualdade para todos e uma nação próspera. Quero um mundo sem preconceito, sem discriminação, sem pobreza, sem fome e sem violência. Mas quero também uma sociedade que cuide dos valores da família, das relações interpessoais e das nossas sentimentalidades. Não quero uma mídia que, sob o pretexto jornalístico, transforma em espetáculo uma matança louca e cruel na busca frenética por audiência. Quero respeito à dimensão do ser humano que é formada longe dos olhos de todos e que nunca sabemos como ela virá à tona.
Gostaria muito que compreendêssemos que o mundo é bem maior que o nosso corpo e todos os prazeres e ameaças que o cercam.
AFA Neto