Porta entreaberta e, sorrateiramente, meu quarto é invadido por um delicioso cheiro de banana da terra fritando. Lembranças de mundos que ficaram no passado mas, que insistem em afigurar na “parede da memória”. Casa da mamãe e nenhuma conta para pagar. Escola para ter que frequentar e o futebol no intervalo para poder conferir um pouco de prazer àquela rotina chata. Lembrança da euforia diante de uma aula vaga e da alegria, momentaneamente sufocada, quando da notícia da morte do Papa. Um dia sem escola.
As fugas para o rio da pecuária e a surra certa na volta. A prova do crime estava na pele. Chegando em casa minha mãe riscava o meu corpo com a sua unha e, então, a constatação: Tava no rio de novo seu moleque! Meia dúzia de “bolos” e não adiantava fechar as mãos que a porrada comia de qualquer jeito. Mas valia a pena a sensação de leveza ao ser levado pela correnteza com o corpo laçado por uma boia improvisada de câmara de ar de pneu de automóvel.
O bába (pelada, futebol) na rua após o jantar, iluminado por um dos postes da iluminação pública e a tentativa de burlar o banho obrigatório antes de ir para a cama. Algumas vezes fui acordado para lavar os pés que, àquela altura, já haviam sujado o branco e cheiroso lençol lavado com esmero por Tai. Aliás, lembro-me muito bem daquela figura simpática que em um quartinho no fundo do quintal passava a roupa com um ferro aquecido com brasas em seu interior.
O final do ano e a temporada de frutas em abundância. A manga “mamão” do quintal da casa de dona Nice perigosamente roubada em companhia dos seus filhos; a siriguela verde com sal, a pinha de doçura incomum que lambuzava mãos e rosto.
Como um cheiro pode acordar todo um mundo?!
Que saudade de dona Zelinda! Suas surras, seu jeito discreto, sua comida, seu cheiro, seu colo, sua voz, sua sabedoria. Sempre tive vontade de escrever ou compor algo que homenageasse minha mãe, mas não creio que seja capaz de produzir algo digno da sua pessoa e do que ela representou para mim. É como estar diante do sagrado, sem ferramentas que possam expressar esta relação. Qualquer palavra que venha a ser usada esconde quando deveria revelar, apequena quando deveria corretamente dimensionar.
Levantei e fui correndo para a mesa. Peguei um pão, parti em bandas, coloquei fatias de banana frita dentro e enfiei os dentes enquanto preparava uma xícara de café com leite.
Cheguei ao escritório e lí que o Ricardo Teixeira tenta tirar a Copa do Mundo de São Paulo por represália ao PSDB. O motivo: durante o governo FHC a CBF foi alvo de duas CPIs por fraudes. Hoje o Governo tenta impedir uma CPI para ivestigar a entidade e o ex-presidente Lula é amiguinho do fraudulento chefe do futebol nacional.
Mamãe, quero a senhora de volta!!!!!!!!!
AFA Neto
Ai ai, na semana em que perdi meu Pai, ler um texto seu sentindo saudades da mãe é uma tortura que quase não me arrisco só pelo título, mas com sempre não resisti...
Que saudade...
Olá Tarcísio, meus sinceros sentimentos. Só ontem fiquei sabendo da partida de Antonio. Fará muita falta. Deus console todos vcs.
Grande Neto,
Minha experiência é bem semelhante, quanto ao cheiro gostoso do passado.Quando eu curtia os meus sete pra oito anos, as panelas de nossa casa estavam completamente vazias. Mas, minha mãe havia conseguido arroz para uma refeição (sempre elas). E num gesto comum para as donas de casa abriu o forno do fogão para procurar algo, e para sua surpresa havia dentro do forno um pote de ouro. Eram bananas(em nossa região bananas nanicas),muito saborosas. Comemos arroz com bananas. Eu já frequentei restaurantes super legais, mas o cheiro do arroz com bananas ainda está presente, eu consigo sentir o cheiro como se estivesse de fato sendo preparado. Eu também quero minha mãe.
Obrigado por me fazer viajar no tempo.
Nando
Fazem dois anos que perdi minha mae....aaaaaaah que saudade, me lembro do seu olhar, das palavras acolhedoras, do seu cheiro inigualável,lágrimas me caem dos olhos, e a dor é imensa e indescritível. Quando recebi a noticia de que ela tinha falecido nao acreditei e o mundo ficou maior e bem mais pesado , naquele momento pedi a Deus para que me permitisse trocar de lugar com ela,mas isso nao é possivel....A saudade a cada instante de minha vida aperta e doi, ma ferida imensa incapaz de fechar, uma ferida que vai ficar aberta eternamente ou enquanto ainda tiver vida. A vida é uma sequencia de crueldade.
Mae....Saudade muiiiita saudade.