terça-feira, 20 de setembro de 2011
ALFA E OMEGA
Ver Deus no outro. Deus belo ou Deus feio, poderoso ou débil, democrático ou déspota, acolhedor ou perseguidor, amoroso ou iracundo. Na face da mãe que chora a perda do filho para as drogas, ver o Deus que consola. Na lida diária e escravizante do pai que madruga para garantir o pão, e somente o pão, para a família, ver o Deus que renova as forças. No abraço sincero e afetuoso de amigos que se encontram após longo tempo, ver o Deus Emanuel. No beijo reverente, porém erótico, dos amantes que sentem suas entranhas em chamas, ver o Deus que fez e se fez corpo. Deus sendo plasmado nos gestos daqueles que foram criados à sua imagem e semelhança.
“Ninguém pode amar a Deus a quem não vê e odiar o irmão a quem vê… este tal é mentiroso”. É nesta equação simples que o apóstolo João resume nossa busca por Deus. Mirar os olhos para o céu e verticalizar nossa busca pela divindade só nos levará a encontrar a nós mesmos. Na ausência de concretude para nossa busca, vamos preenchendo as lacunas com nossos conceitos e desejos até construirmos um deus que seja a nossa cara; portanto, um ídolo. É importante atentar para o começo do processo de conhecimento. Não se começa pelo que está lá fora para depois tentar encontrá-lo aqui dentro. Se assim procedermos só encontraremos nossas projeções.
A busca é sempre dialética. Deus em nós, conosco e por nós. A divindade repousa misteriosamente em nosso interior, ganha cheiro e fisionomia entre aqueles que estão à nossa volta e finalmente adquire densidade e plenificação no mistério da transcendência. Assim como não podemos começar pelo espaço errado, não podemos nos restringir a um único lugar de manifestação do sagrado. O Deus da transcendência e somente dela, é um ídolo criado pelas nossas projeções para legitimar nossos desejos megalomaníacos. O Deus da subjetividade e somente dela é um ídolo que manipulamos e reconstruimos ao sabor das nossas inclinações. E finalmente o Deus no outro e somente ele, criará um ídolo de múltiplas personalidades.
Quando os três espaços interagem na construção do conhecimento de Deus em nossa vida, estamos próximos à descoberta do Deus que emana das páginas das Escrituras Sagradas. Aliás, sem a mediação do Texto Sagrado, nossas conceituações de Deus sempre serão caricaturas da divindade.
Mas, mesmo que trilhemos o caminho adequado, tal conhecimento não será ainda uma Boa Notícia que tenha o poder de dar sentido à nossa existência errante. Essa Boa Nova só será libertária se nos confrontar com a pessoa de Jesus de Nazaré. Ele é a concreção do Deus em nós, conosco e por nós. Jesus é Deus traspassando a soleira da porta que separa tempo e eternidade, invadindo nossa história e religando-nos à nossa fonte originária. Nas palavras do Texto Sagrado seria ditto: “Jesus é o alfa e o omega, o princípio e o fim, o que era, o que é e o que há de vir.”
AFA Neto
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Deus, somente Deus... às vezes não vemos assim porque não queremos...