As mortes de Ananias e Safira relatadas no quinto capítulo do livro de Atos dos Apóstolos nunca me impressionaram. Sempre me achei meio esquisito por não ter meu interesse direcionado para as condições curiosas que envolveram aquelas mortes. Perguntas do tipo: “como se deram as mortes?” e “será que Deus continua punindo algumas pessoas que mentem da mesma maneira?”, nunca passaram pela minha cabeça. Acho que isso acontece pelo fato de nunca ter lido o relato isolado do seu contexto. O ambiente de incentivo da vida de comunhão como diferencial da comunidade do primeiro século, marca os primeiros capítulos do livro mencionado. A igreja que cultivada uma koinonia visceral, se expressava na partilha, na solidariedade, no alicerce apostólico das suas crenças e no temor a Deus. É nesta moldura que está cravado o episódio envolvendo aquele casal. A vida em comunhão dá a tônica do texto.
A tragédia que se abateu sobre Ananias e Safira nos instrui sobre a vocação primeira da igreja de Cristo. Nenhuma missão é mais importante do que a preservação da comunhão cristã. Foi o rompimento com essa visão que precipitou a má sorte do casal. A pseudo-comunhão nutrida pelo casal contrastava flagrantemente com a verdadeira comunhão que era cultivada na comunidade de Jerusalém. O dilema ao qual somos conduzidos pelo texto é entre a verdadeira comunhão e a falsa comunhão a qual chamo de conchavo. Enquanto os apóstolos incentivavam as pessoas a viverem em comunhão, Ananias e Safira estavam preocupados em estabelecer acordos espúrios que comprometiam a comunhão da igreja.
Conchavos são urdidos em segredo, pois a sua força e eficácia estão no fator surpresa. Se descobertos perdem o seu poder e expõe os seus artífices à vergonha. Já a comunhão clama por clareza e transparência. A validade da comunhão reside em sua capacidade de fazer tudo de portas abertas e à luz do dia.
Conchavos são gestos esotéricos e restritos aos iniciados. Nem todos estão qualificados para participar dos grupos que fomentam os acordos silenciosos. É preciso que o candidato a participante seja um iniciado na arte da exclusão, pois quando se faz conchavo sempre se visa atingir outros. A comunhão é inclusiva e nunca se requer qualificação para vivenciá-la. Ela visa única e exclusivamente congregar pessoas.
Conchavos são construções da engenhosidade humana. Não é natural. Pode até nos paracer mais fácil ser fofoqueira, caluniador, crítico sem envolvimento, mas a verdade é que isso não deveria ser encarado como natural a nós. A comunhão é condição e participação. Não temos capacidade de construí-la, tudo que somos conclamados a fazer é preservá-la. Não é a comunhão como idealizada por nós e sim como vivida no ser divino, na Trindade. Por isso o apóstolo Paulo fala em “preservar a comunhão” e nunca em construí-la. O nosso modelo é nada mais nada menos que o próprio Deus. O Pai, o Filho e o Espírito Santo vivendo eternamente em comunhão perfeita, em cooperação, em respeito dos espaços exclusivos de cada uma das pessoas e em convergência de interesses.
Conchavos são jogos e disputas. Neles há perdedores e vencedores, prejudicados e beneficiados, caça e caçador, mortos e matadores. Na comunhão não há lados e nem existem disputas em jogo. Quando se vive em comunhão não se consegue identificar as dicotomias descritas acima, pois toda a relação é dialética: pode haver tensões mas os interesses sempre convergem para a glória de Deus.
A tragédia que se processou em Jerusalém no primeiro século continua assolando as nossas igreja e relacionamentos hoje. Pessoas que preferem optar por construir os conchavos ao invés de preservarem a comunhão do corpo de Cristo. Urdirem tramas ao telefone, destilarem veneno em grupinhos nas igrejas, espalharem suas insatisfações gerando desconforto no corpo, tem sido algumas das atitudes dos construtores de conchavos. O pior é que tudo isso vem travestido de piedade e de preocupação com a igreja. Precisamos urgentemente aprender a substituir conchavos por comunhão.
Em Cristo,
AFA Neto
É MEU QUERIDO IRMÃO, REALMENTE VIVEMOS DIAS ASSIM. MAS COMO SERVOS QUE SOMOS É PRECISO DEIXARMOS OS CONCHAVOS E VIVERMOS EM COMUNHÃO.
UM ABRAÇO
Meu caro amigo Neto,
Parabéns pela precisão e sensibilidade na construção do texto. Uma grande pastoral!
Sergio Lisboa
Realmente, Nunca tinha olhado por esse prisma! Sempre evitava esse texto por não ter maiores explicações. Muito bom este teu texto professor Neto.
..e o que pensaria um novo convertido se presenciasse algumas cenas de conchavo dentro da Igreja??????
Certamente ficaria chocado e todas as suas chances e motivações de retornar a Igreja seriam anuladas...
É com grande tristeza que escrevo isso mas é a pura verdade...
Alguns membros da Igreja onde congrego me dizem que devo colocar venda nos olhos para os conchavos, mas tenho um defeito: não sou hipócrita...
Grande texto, senhor Neto...bom demais..
Esse texto vem esclarecer de uma vez por todas que comunhão, não tem nada a haver com conchavo!
O sentimento que tenho é que na prática, ou seja, nas nossas igrejas confundimos viciosamente os dois aspectos, mascarando relacionamentos doentios sem nenhum compromisso com o Corpo.
Um abração Pastor!!!