No som do carro tacava um pop rock nacional de uma banda com uma voz feminina no vocal principal. Não é um gênero que curto, mas estava com preguiça de mudar de estação. Não demorou e minha filha disparou: “Que música é essa? Parece coisa dos anos oitenta”. E era. Descobri que “Anos 80” é uma categoria para designar coisa antiga e de certa forma ultrapassada para uma turma mais nova. Pois bem, minhas descobertas musicais ficaram quase todas neste passado que encontra o limite temporal nos Anos 80. De lá pra cá pouca coisa mereceu minha atenção.
Ontem à tarde deitei para descansar e quando levantei fui á net e me deparei com a notícia da morte de Amy Winehouse. Ela era uma daquelas poucas coisas que mereceram minha atenção após os anos 80. No universo de ninfetas com belas vozes e corpos esculturais cantando uma música pra adolescente embalar seu desnorteio, a desnorteada inglesa era uma ilha de talento sem igual.
Alguem pode estranhar este texto fazendo elogios a uma criatura que desperdiçou sua curtíssima vida se embriagando e consumindo drogas. Não estou aqui para beatificar Amy e sim para lamentar sua partida. Lamento que tenha sido tão cedo e tão melancolicamente. A forma como viveu certamente não é um exemplo a ser seguido e a forma como morreu aponta para uma das consequências de se buscar refúgio em abrigos desprovidos de solidez. O mesmo abrigo buscado por Janis Joplin, Jimi Hendrix, Kurt Cobain e Jim Morrison.
Estou triste. Penso que a música está mais pobre. Estou chateado com a Winehouse. Por que ela seguiu por este caminho e nos deixou na companhia de Lady Gaga, Rihanna, Shakira e outras do gênero? Sei que existem outras menos famosas e ainda aquelas que um dia serão ouvidas não pelos belos rostos e corpos esculturais, nem pelas performances extravagantes e teatrais, mas unicamente pela música que fazem. Entretanto, sei que ninguem cantará Love is a losing game daquela forma que toca a alma até mesmo daqueles que, como eu, continuam acreditando que o amor não seja um jogo perdido.
Vou ficando por aqui e tentando amenizar minha tristeza com um dos rhythm and blues da londrina, filha de um taxista admirador do Jazz.
AFA Neto
Simplesmente um texto completo. Indescritivel !
Sensibilidade e lucidez encontro no teu texto. Compartilho com a tua leitura a respeito de Amy.
Ficamos órfãos de uma voz tão rara e tocante. Pena!
Diana
Amigo você sabe que sou seu fã em tudo.E dessa vez você conseguiu expressar de forma simples mas com sobriedade a vida e o talento que se foi.
Eu sou dos anos 80 e acho que foi a melhor época musical depois da turma da Inglaterra.
Muito bom.Adeus a uma figura marcante na musica.
Me sinto perdido com o texto e os comentários; acho q não tive a oportunidade de adimirar o que essa moça tinha de tão belo além de uma voz afinada...
Dou valor sim aos anos 80, de onde os cantores e compositores da época precisam ficar até hoje regravando e regravando por que devido à valorização da porcaria atual, ninguém mais se importa em sentar pra pensar em algo que preste pra compor. Esse é o quadro de hoje; pessoas completamente desorientadas e desenfreadas que fazem músicas sobre uma internação para tratamento contra as drogas que ela rejeitou, e isso vira mérito de Grammy - que piada.
De Amy pra mim só fica uma desvairada que apesar de cantar bem não é e nunca vai ser exemplo de nada de bom pra ninguém...
Perdoem-me a sinceridade, mas aqui é o canteiro né?