Essa foi a carta que recebi de um grande amigo e colega de ministério pastoral na última semana. Publico aqui por retratar muito bem aquilo que perpassa o coração de muito pastor que leva a sério a vocação pastoral e se vê desafiado pelas tendências desses nossos dias. Boa leitura:
"Estou terminando o ano de 2012, refletindo, olhando para dentro de mim, esquadriando meu coração, minha alma, meus sentimos, pensamentos e me preparando para um momento novo e inédito em minha jornada ministerial. No próximo dia 21 de dezembro celebro 15 anos de ordenação ao ministério da palavra, dos sacramentos e de serviço diaconal a igreja de Cristo, ao Reino de Deus ao mundo e a sociedade do meu tempo. O 16º ano será vivido fora do ministério pastoral formal, sem está pastoreando uma igreja local, sem vínculo formal com um conselho.
E agora? O que vai ser de mim e da vocação/ministério que recebi do Senhor. Confesso que isso até me preocupou em algum momento, mas hoje não é mais motivo de preocupação. Não sei quem me ensinou, e até sei, mas sempre acreditei que o campo é o mundo e que as ovelhas são as pessoas, sejam essas da igreja formal ou não, estejam essas vinculadas a uma comunidade ou não, elas são ovelhas, precisam de pastor e eu e meus colegas pastores podemos pastorea – las sem, contudo, termos um acordo formal.
Hoje está mais claro que nunca, apesar de não ser metodista, que minha paróquia é o mundo, meu bairro, minha cidade, meus amigos, colegas de trabalho, aqueles com quem cruzo nas ruas, os atendentes das padarias, farmácias, supermercados, postos de combustível, borracharia, livraria, sorveteria, lanchonete, os ouvintes de minhas palestras sobre drogas, o pedinte que me aborda na rua ou tocando meu interfone, o flanelinha que cuida do meu carro no estacionamento ou mesmo aquele que lava no lava – jato, o mecânico que concerta meu carro, o técnico de informática que da manutenção em meu computador, o pintor que pinta minha casa ou o pedreiro, eletricista, bombeiro hidráulico ou marceneiro que faz serviços pra minha família. É uma paróquia diferente, sem paredes, telhados, portas, grades e janelas. Nessa paróquia o culto será celebrado nos encontros e a liturgia será a vida e o viver, a música será as sagradas histórias compartilhadas e a mensagem será a mesma, Jesus de Nazaré, o verbo que se fez carne e habitou entre nós, tudo isso por amor. O sermão não terá introdução, elucidação, 3 pontos, aplicação e conclusão, será sempre em forma de diálogo, as vezes conclusivos outras tantas vezes com cenas para os próximos encontros.
Não seria mais tranquilo continuar na igreja local, completar 9 anos, 10 e assim por diante? Ter um salário fixo, certo todo mês. Sim, sem dúvida, mas tem coisas que não tem explicação lógica, racional. As coisas da consciência, da ideologia, as utopias. Não consigo pastorear uma comunidade local motivado apenas pelo salário e benefícios, porque tenho contas para pagar e uma família para sustentar, isso não pode ser motivo para uma relação pastor e igreja. Eu prefiro a paixão, o encanto pelo reino e seus valores, e infelizmente nesse momento não estou vivendo isso na igreja local e não posso aceitar continuar, apenas porque não posso ficar sem salário ou sem sustento. As côngruas não podem pesar mais que a paixão, o encanto as utopias que me faz ver e viver o ministério, além das questões institucionais e situações visíveis.
Um dia ouvi de alguém a seguinte expressão: “ Eu só sei ser pastor”. Descobri que eu também, mas também descobri que ser pastor é algo que trago comigo em minha vida, não é algo que vivencio apenas quando estou numa relação formal com uma igreja local. Sou pastor, pastoreio e tenho ovelhas todo tempo e o tempo todo, aqui, ali e acolá, além dos limites do templo, dos dias de culto e das decisões do clero e dos clérigos.
Em 2013 não estarei mais IPF, sentirei uma falta enorme desses irmãos amados, trago cada um deles em meu coração, com alguns fui apenas pastor, com outros foi pastor, conselheiro e orientador, ainda com outros fui pastor e mentor e com ainda outros fui pastor, amigo chegado e com alguns poucos foi pastor e amigo mais chegado que um irmão. Assim vivi e convivi preciosos anos de minha vida, nos quais fui muito abençoado e desfrutei de muitas dádivas do Altíssimo. Entre elas a de ser pai. Foi aqui, na companhia dos irmãos da IPF que Deus nos visitou e nos presenteou com o tão desejado filho. Eu gostaria que ele fosse pernambucano e Deus que ele fosse capixaba, cumpriu – se a vontade de Deus, é assim que oramos que se cumpra a Tua vontade, assim na terra como nos céus, foi o que ocorreu conosco, Tárcia e Eu."
Iranildo Ferreira de Araújo
Rapaz, esse cara é um precursor de uma nova era da Igreja, " o retorno à sua missão original e irresistível", ser gente transformada sem a necessidade de cargo ou rótulo. Estou emocionado e impactado pela lucidez, clareza, honestidade, pureza e identificação com Cristo expressa nessa carta. ALELUIA!!!!!!!!!!!!!
Foi esse o mesmo sentimento que tive ao ler esta carta Fabinho. Deus abençõe o Iranildo e a todos nós também.
Quando vi esse post no "pastorespresbiterianos" disse logo: ei, isso é do meu grande amigo Iran, meu companheiro de quarto no SPN. Grande pastor, homem como poucos. Parabéns Neto, pela postagem.
É verdade Rômulo. O Iran é homem como poucos. Com seu jeito e presença tem ensinado muito a todos nós. Abração meu caro.