Inácio tem 66 anos de idade e está com um câncer. Homem de origem humilde e mesmo na contramão do que se poderia esperar, conseguiu chegar à presidência do Brasil . Inácio tem 5 anos de idade e está com câncer. Tem uma origem humilde, tem o exemplo do homônimo que superou as adversidades e venceu, mas tem um desafio que aquele que inspirou o seu nome só veio a ter 61 anos depois de completar a sua idade. Ambos terão pela frente uma luta muito grande.
Faço uma pausa e retomo o assunto adiante.
Vivemos a era do “cristianismo de barganha”. As igrejas estão abarrotadas de gente e as outras que ainda não tiveram a mesma “sorte” pretendem ter a mesma clientela daquelas. Para ascender ao status de mega igreja promovem encontros com propostas de muitos ganhos. Ir à igreja pode ser um bom negócio para todos. O fiel pode obter aquelas graças que tanto deseja ( curas, alívios emocionais, emprego , causas na justiça, etc) Os líderes destas igrejas conquistam o tão sonhado espaço no universo das celebridades evangélicas. Isto porque, para merecer tal posto tem que ser pastor de mega-igrejas e ter um padrão de vida acima da imensa maioria dos brasileiros comuns.
É um cristianismo de barganha porque a motivação consciente ou inconsciente é sempre a mesma: A obtenção de benesses. Até mesmo quando alguém se predispõe a doar, a verdadeira motivação que se esconde por trás desta atitude é um desejo de retribuição. Espera-se que Deus retribua generosamente a ponto de superar as expectativas do ofertante. Perguntar a uma pessoa neste universo religioso em que vivemos, se alguma vez ela se dirigiu a um templo sem pretensões de retribuição, movida de um amor abnegado, é falar uma língua estranha a ela.
Pois bem, é pensando nisso que me vem à mente um relato do livro sagrado de Atos dos Apóstolos. É uma historia envolvendo um homem chamado Barnabé e um casal (Ananias e Safira) que flerta com a nascente fé cristã. Peço licença para pinçar alguns fatos até chegar à minha conclusão sobre o cristianismo de barganha que temos hoje.
O capítulo 4 começa com um relato da prisão dos apóstolos Pedro e João motivada pela pregação e práticas corajosas destes a despeito de todas as tentativas de intimidação promovidas pelas autoridades judaicas. No comparecimento deles no Sinédrio, eles reafirmam as verdades fundamentais da fé cristã e a disposição do coração de ambos de darem a vida por estas verdades.
A partir do v. 23 Lucas compõe uma belíssima cena quando ressalta a comunhão visceral da comunidade cristã, expressada numa oração cheia de contornos doutrinários. Ao final desta oração somos informados que “todos ( a eclesia ali reunida) ficaram cheios (pleroma) do Espírito Santo e, com intrepidez, anunciavam a palavra de Deus.”
Em seguida nos versículos 32-35 o autor faz um breve, mas preciso relato daquilo que poderíamos chamar de “modus vivendi” da comunidade cristã em Jerusalém. Neste relato, valores como COMUNHÃO, PARTILHA e FUNDAMENTAÇÃO DOUTRINÁRIA APOSTÓLICA dão a tônica.
É com essa convicção que chegamos ao versículo 36 e aos onze primeiros versículos do capítulo 5. É necessário perceber que Lucas tenta fazer uma comparação entre duas maneiras de se portar diante dos desafios da fé cristã naquele momento. As ofertas de Barnabé por um lado e a oferta de Ananias e Safira, por outro, visam exemplificar duas atitudes possíveis e infelizmente, existentes na igreja de Jerusalém, no que concerne ao serviço cristão.
Aqui nos deparamos com uma lição que nos escapou por completo. O que diferenciou as atitudes de Barnabé, por um lado e Ananias e Safira, por outro, foi o comprometimento existente na vida do primeiro e o alheamento imperando na vida do casal. Enquanto a oferta de Barnabé era uma expressão de sua entrega à causa do Evangelho, a oferta do casal Ananias e Safira era uma tentativa de parecer pertencer pela via da doação.
O problema para aquele casal foi doar o que se tinha sem doar-se. Sempre foi mais fácil dar do que doar-se. Fazemos isso o tempo todo. Temos uma relativa facilidade para participar de campanhas que exigem de nós atitudes de doação material (dinheiro, alimento, saber, etc) . O problema é quando se nos requer a auto-doação. Ir a uma igreja que promete benesses em troca de doações e “desprendidamente” enfiar a mão no bolso e depositar no gazofilácio uma determinada quantia em dinheiro, não faz de ninguém uma pessoa comprometida com o Evangelho. Pelo contrario, essa atitude pode ser uma denúncia de que está havendo um terrível alheamento.
Volto aos Inácios:
Falo tudo isso para chegar nas notícia que me sensibilizaram nestes últimos dias. O câncer de laringe do ex-presidente Lula e a leucemia do meu conterranêo, o filhinho do padre Adenilton. Conversei com o pai e pude sentir a dor que perpassa sua alma. A tarefa desumana de ser humano, ser pai, mostrar força para o filho, crer, esperar e se manter de pé. Talvez o quadro evolua para a necessidade de um transplante e é aqui que encontro algo que pode ser referencial para aqueles que se dizem cristãos. Os dois irmãos do Inácio serão os prováveis doadores de medula. Não obterão um único centavo pelo gesto de doação, mas o farão com um prazer indizível. O motivo parece claro: são carne da mesma carne, sangue do mesmo sangue, são família, se amam e não conseguem se enxergar sem o Inácio. Se doaram.
Espero que o Inácio presidente encontre neste momento gente que se doe para ser verdadeiros companheiros e companheiras neste vale de sombra de morte. Sei que os “companheiros” da caminhada política pouco poderão ajudar nesta hora e o verdadeiro companheirismo deve vir da companheira que sempre esteve ao seu lado e dos seus filhos.
Eu que não sou das família, mas sou pai de um menino e uma menina, e tive uma mãe levada desta vida pelo câncer, junto minhas orações às muitas preces dos outros amigos e amigas, num gesto de arqueiro que tenta alvejar o coração do Deus e Pai que se doou por todos nós.
Por fim deixo esse lembrete: quem doa, nem sempre se doa, mas quem se doa, tem prazer em doar. E o faz sem esperar nada em troca e sem achar que Deus precisa de alguma coisa que possamos dar para ele.
AFA Neto
Querido pastor,
Embora não venha muito aqui no seu cantinho, sempre que venho sou abençoada. E agradeço a Deus por fazer parte de uma comunidade que tem alguém tão verdadeiro e sensato como você a nos trazer essa boa palavra e agradável amizade. Deus continue te inspirando e sustentando.
Rosana Dourado.
Olá Rosana, o prazer é todo meu por pastorear uma comunidade abençoada e abençoadora como a Aliança. Grande abraço.
OI Neto!
Um prazer imenso ler seus textos, são altamente inteligentes e nos tocam profundamente. Fantásticos o que você fala sobre a oração. ele me fez lembrar minha mãe.
Um abraço
Lúcia