Definitivamente, o Vaticano não gostou da campanha publicitária do grupo Benetton. Considerou um desrespeito aos fiéis e um insulto ao Santo Padre. Vai exigir providências enérgicas para punir tal perfídia. Que ironia! Se ficasse só no campo das palavras, a campanha intitulada pela companhia italiana de UNHATE (não ódio), bem poderia contar com o apôio irrestrito daqueles que tem em seu livro sagrado várias advertências contra o ódio, mas as imagens usadas pelo grupo não agradaram a Santa Sé. Resultado: o Papa e seu séquito foram os primeiros a reagirem rancorosamente à campanha pela paz.
Convenhamos, fazer uma montagem fotográfica onde o Papa beija na boca de um Imã do Cairo ( na cultura islâmica e particularmente xiita, o imã é um escolhido de Alá com dotes de liderança muito especiais) é no mínimo algo de mau gosto. É bem verdade que outras personalidades como Barack Obama, Nicolas Sarkozy, Angela Merkel, Hugo Chaves e até os bicudos Mahmud Abbas e Benjamin Natanyahu, aparecem em fotomontagens com cenas de beijos calorosos e dignos de novelas das seis (das nove já seria pornografia), mas figuras políticas já estão acostumados a serem achincalhadas. Agora, fazer isso com o “Sucessor de Pedro” é uma heresia digna da Santa Inquisição.
Muito bem, quero ver essa mesma indignação do Vaticano em relação às atitudes pedófilas de seus clérigos. Quero pronunciamentos veementes da Santa Sé dirigidas às nações que cultivam uma cultura da guerra para exercer dominação sobre os mais fracos e aquecer a economia interna com a produção e venda de armamentos. Passaria a olhar com grande respeito para o Potífice se ele usasse de suas prerrogativas de Sacerdote e chefe de Estado para exigir que as relações entre as nações fossem mais equânimes. Quero também a Igreja indignada com a pobreza extrema e provocada, com a morte de milhões de crianças por inanição por causa da péssima distribuição de renda, com a cultura da corrupção que se constitui em um gigantesco ralo por onde se vai quantias exorbitantes de dinheiro público.
AFA Neto
O estilo do Vaticano sempre foi bastante seletivo e não seria diferente em tal questão. Deve-se ressaltar que o texto expressa como para a Igreja Romana é muito mais imperativo manter a postura sisuda de sobriedade cristã e opulência pagã. Postura esta passível de desconstrução por atitude crítica como esta.
Quanto a campanha, eu achei de uma atitude transgressora louvável. Em tempos de pós-modernidade, a arte e sua expressão demonstram uma predisposição revolucionária que ainda não consegue ser muito bem aceita pela nossa sociedade com valores axiológicos tão arcaicos e modernistas.
Concordo contigo, Neto, em dizer que a afronta a figura dos políticos vai ser aceita com pouco - ou quase nenhum - alarde. As reações do Vaticano - ocidental e mais maleável por construção histórica - nós já conhecemos, espero agora ver em alguns jornais as reações dos islâmicos, que há poucos anos apresentaram uma imensa balbúrdia com aquela charge dinamarquesa de Maomé (talvez seja a única unanimidade entre os muçulmanos).
Olá Hugo,
seu comentário merece constar na página principal do Canteiro. Muito perspicaz e provocador.
Muito bom
Imagine quando resolverem colocar Macedo e malafaia se beijando em frente ao grande templo?!
É veerdade, Vigor, faltou essa fotomontagem mesmo. rsrsrsrsr
Neto,
Você sempre me faz pensar.
Não é a toa que é tão citado em preleções presbitério afora :)
Saudade, amigo,
Meu nobre colega e, sobretudo, amigo Samuca, essas citações desencadearão uma investigação sobre a qualidade do que nossos conciliares andam lendo!
Grande abraço