Gosto muito mais das perguntas em um texto do que das afirmações. Aquelas revelam muito mais que estas. No relato do Evangelho de Lucas que ficou conhecido como "O Bom Samaritano" (sinto náuseas só em escrever ou ter que pronunciar esse título. Êita infelicidade danada dos editores!!) temos algumas perguntas reveladoras. Entretanto, duas delas feitas por Jesus ao perito da lei são memoráveis:
"O que está escrito na Lei?"
"Como voce a lê?" A primeira pergunta diz respeito à nossa familiaridade com as Escrituras. A segunda dialoga com nossas cosmovisões. A primeira pode revelar que, apesar de termos familiaridade com a Escritura, podemos não desfrutar de intimidade com o Deus da Escritura. Conhecer o texto não é conhecer o seu autor.
A segunda pergunta nos ensina que nossas aproximações da realidade se dão de maneira interpretativa. A rigor, não há fatos, só interpretações. É aí que entra a cosmovisão. Ninguém lerá diferente se continuar usando os mesmos óculos o tempo todo. Só lemos o que queremos. Ou melhor, o que a nossa cosmovisão nos permite interpretar.
Essa última pergunta é revolucionária. A um religioso que nutria grande familiaridade com os textos sagrados e cultivava profundas convicções dogmáticas, Jesus sugere que apesar de todo esse aparato, a sua leitura poderia estar equivocada (ou pelo menos apequenada).
Afa Neto




