"A impressão que deu era que a construção já estava muito desgastada. As paredes desmanchavam muito fácil". Foram as palavras de um observador que estava ao meu lado enquanto acompanhávamos à demolição do imóvel que cederá lugar ao nosso templo. O operador da máquina respondeu ao comentário com as seguintes palavras: "Pois, essa foi uma das construções mais resistentes que encontrei até hoje". Em seguida completou: "Engraçado... Uma coisa que leva mais de ano para construir, nós podemos destruir em menos de 2 horas!".
Já sabemos à exaustão que destruir é muito mais fácil que construir. Também sabemos que construções bem feitas sobrevivem com relativa facilidade à passagem do tempo e às intempéries da natureza. O que equaciona esse aparente paradoxo é uma coisa chamada 'Intencionalidade'.
Só é mais fácil destruir que construir se houver da nossa parte uma intenção destrutiva. Aí sim, nada fica de pé diante da sanha destrutiva do ser humano. Casa, legado, relacionamentos, caráter, valores, etc.
Por vezes, a intencionalidade vem disfarçada de ímpeto, de temeridade ou de ignorância, mas, se cavarmos um pouco mais, descobriremos a intenção agindo por trás da aparência. Brincando com a célebre frase de Marx ("O que sólido se desmancha no ar"), eu diria que o que é sólido, tende a resistir a menos que empreendamos ações para desmanchá-lo.
Divagando filosoficamente, eu diria que a intencionalidade já está prevista na ontologia da criação. Traduzindo: a própria ordem cósmica tem uma dinâmica que tende para a superação da realidade existente rumo uma outra realidade. Traduzi coisa nenhuma, né?! Vamos tentar uma metáfora religiosa: "Eis que as coisas antigas já passaram e tudo se fez novo" (Paulo, Apóstolo). Pois bem, em eras anteriores essa passagem do antigo para o novo se dava quase imperceptível ao observador. Geralmente, ela era constatada pelas gerações posteriores. Agora, contudo, tais mudanças se processam diante dos nossos olhos e são percebidas por todos (ou quase todos!!!).
Não temos referências históricas para lidar com isso. É aí onde está o problema. A sensação que temos é que estamos diante de uma implosão ou de uma demolição mecânica. E ficamos desesperados querendo preservar partes da construção antiga que nos parecem essenciais e não deveriam ser descartadas. Como vamos demolir os banheiros? Que casa pode prescindir desse cômodo? As pessoas não continuarão a ter necessidades fisiológicas? A solução não é manter o cômodo antigo para a construção nova. A solução é construir novos e melhores banheiros para uma nova casa, habitada por novas pessoas. Preserva-se a funcionalidade diante dos novos arranjos que se apresentaram.
Bem, isso tudo é apenas elucubração sem nenhuma pretenção. Mas pode engravidar outr@s.
Afa Neto
quinta-feira, 5 de outubro de 2017
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