Jesus resolveu subir a Jerusalém para participar de uma das festas dos judeus. Como era do seu feitio, foi direto para a companhia de gente evitada. Doentes de todas as espécies, deficientes visuais, pessoas com dificuldade branda de locomoção e paralíticos. Seus olhos bateram num homem que há 38 anos nunca experimentara o prazer de andar. Ele, como os demais que estavam ali, fora atraído ao local pela fama de que, de vez em quando, um anjo descia e movia as águas, possibilitando àquele que primeiro chegasse ao tanque, após as águas agitadas, a tão sonhada cura.
A situação estava posta e parecia justa para todos. O tanque era aberto a qualquer um. Todos tinham a oportunidade. Era só chegar primeiro. Era a igualdade de oportunidades, era o princípio da meritocracia, era o darwinismo social. Só tinha um problema: esqueceram de falar para todos que igualdade apenas na chegada, sem conceder igualdade na partida, não é igualdade, é desigualdade.
Como pode um tetraplégico competir com alguém que tem um braço paralisado, quando o critério é a capacidade de maior e melhor locomoção? Ou seja: a suposta igualdade de oportunidades só expunha ainda mais que os "competidores" partiam de situações muito desiguais.
Jesus, conhecendo isso como ninguém, faz a pergunta denunciadora da falácia da igualdade de oportunidades. Dirigindo-se para o paralítico interpela: "Você quer ser curado?". Só bastou uma simples pergunda para fazer ruir todo o edifício da sociedade calcada em bases competitiva, individualista e desigual. A resposta daquele homem comprova: "Senhor, não tenho ninguém (INDIVIDUALISMO) que me ajude (COMPETIÇÃO) a entrar no tanque quando a água é agitada. Enquanto estou tentando entrar, outro chega antes de mim (DESIGUALDADE)".
A ação seguinte de Jesus coloca as coisas em seus devidos lugares. Rompe com o isolamento daquele homem aproximando-se dele e interpelando-o; destroi a vileza da competitividade tratando-o como amigo e desfaz a malignidade da "desigualdade de partida" ao restaurar a condição de mobilidade dele.
Parece que a emancipação do(a) cidadão(ã) nao se dará pela via desse darwinismo social preconizado pelos adeptos do "laissez faire". Para quem conseguiu "vencer" nessa selva é fácil exigir a continuidade do modelo com base na "igualdade de oportunidades" na chegada e achar que isso é verdadeira justiça. Contudo, para quem nutre valores cristãos, quer tenha chegado lá, quer ainda esteja a caminho ou mesmo nunca chegará lá, é imperativo resistir a esse pseudo discurso racional do mercado total.
A ação de Jesus demonstra que é necessário uma intervenção para mudar as regras do jogo (pois são injustas) e equilibrar as condições de participação no processo (para que haja equidade). Acredito na Igualdade de Oportunidades desde que o processo todo (partida e chegada) seja alvejado pelo princípio da solidariedade, cooperação e justiça.
Afa Neto
É isso aí!
"Igualdade de oportunidade" é uma pérola que deve ser almejada por aqueles que buscam uma sociedade mais justa e próspera. Ela não garante igualdade de resultados uma vez que o sucesso depende de muitos outros fatores, mas derruba de vez a desculpa dos fracassados, preguiçosos, sem fé, derrotados que querem socializar suas mediocridades e fracassos.
Deus foi desigual na distribuição de dons, talentos, atributos físicos, personalidades, riquezas, não curou todos os doentes, nem deu visão a todos os cegos ou salvação a todos os perdidos. Ele escolheu alguns e beneficou alguns de forma muito especial. Mas no final, todos seremos responsáveis por nossos atos e escolhas e desculpas não serão aceitas.