Do despretensioso ao intencional

Aqui estou eu voltando ao revelador encontro de Jesus com a mulher samaritana, conforme registrado no capitulo 4 do Evangelho segundo João. Desta vez o que me chama a atenção é a transição do despretencioso para o intencional. Assim podemos arriscar a olhar esse episodio. O diálogo em questão ganha contornos de confrontação. A intenção de Jesus não era um diálogo fortuito, não era uma mera quebra de estereótipos preconceituosos, nem a divulgação barata de uma determinada perspectiva religiosa. Era um encontro ímpar, para marcar uma transformação radical e definitiva na vida daquela mulher.
Há alguns milênios atrás aquela mulher vivia um dilema “djavaniano”:
"Vou andar, vou voar pra ver o mundo; nem que eu bebesse o mar, encheria o que eu tenho de fundo.”
Talvez aquela mulher nunca tivesse parado para pensar sobre o sentido da sua vida. Quem sabe a samaritana, pela primeira vez, foi confrontada com um anseio sempre presente, porém inconsciente ou ignorado: QUE SENTIDO FAZ ESTAR NESTE MUNDO?
A confrontação de Jesus passa por alguma das questões que se seguem.
ONDE VOCÊ TEM BUSCADO AS RESPOSTAS? Pode até ser que não estejamos conscientes das nossas buscas, mas a verdade é que passamos pela vida como peregrinos em busca das respostas. Tentar satisfação no que não nos poderá satisfazer só aumentará o vazio.
QUE TIPO DE POÇO É VOCÊ? Existem dois tipos de poços: Aqueles que não retêm as águas e, portanto, não satisfazem as suas próprias necessidades (geralmente porque focam a satisfação dos desejos); e aqueles que servem não apenas as suas necessidades mas que irrigam outras plantações e regam outros jardins. A proposta de Jesus é que sejamos poços da segunda categoria.
QUE SE ESCONDE POR TRÁS DAS REPRESENTAÇÕES? O texto começa apresentando uma mulher bem ajustada e inclusive se propondo a atender uma demanda do próprio Senhor. O mesmo texto termina expondo as vicissitudes de uma pessoa destroçada e carente de ajuda. Isso me faz lembrar a história do profeta Elizeu e a sunamita em II Reis 4. Mesmo após ter perdido seu filho e sentindo a dor indizível de uma mãe sem rebento, quando perguntada sobre seu estado pelo profeta “Vai tudo bem...?” A sua resposta foi: “Tudo bem.” Muitas vezes passamos pela vida tentando esconder das pessoas e até mesmo de Deus o verdadeiro estado da nossa alma.
O sentido estar em buscar na Fonte certa, para ser uma boa fonte, sem promessas do que não se é.

AFA Neto