"A amnésia histórica é um fenômeno muito perigoso, não só porque ela mina a integridade moral e intelectual, mas também porque cria as fundações para os crimes que serão cometidos adiante." (Noam Chomsky)
A frase acima, do profeta Chomsky, foi escrita ultimando seu artigo para o The New York Times ao comentar a história de torturas perpetradas por sua nação (EUA). Ao contrário do que se pensa e se prega, o império americano tem uma história de torturas que remonta às suas origens (infant empire). As atrocidades praticadas em Guantanamo não podem ser vistas como um lapso na trajetória desta grande nação. É exatamente para combater essa visão, denominada por muitos de "excepcionalismo norte-americano", que o linguista Chomsky escreve esse artigo.
Recentemente o senado norte-americano publicou um relatório para os Serviços Armados sobre o tratamento de detentos que chocou a opinião pública. Diante dos fatos, a impressa foi ágil em fazer denúncias dos descaminhos dessa "escolhida" nação em decorrência dos governos Bush.
Entretanto, o que poderia ser um avanço, é na verdade uma tentativa de camuflar coisas mais graves. Uma coisa é admitir que, por conta das ações de um mau governante, houve um extravio dos ideais sempre preservados (o exepcionalismo norte-americano); outra coisa bem diferente é admitir que os "ideais" tão aclamados nunca encontraram lugar na história da nação. Parece que é essa a proposta de Chomsky. Parece que esses são os fatos.
Parece que é mais fácil lidar com um desvio de rota do que encarar a realidade de uma desorientação original. Quando se trata o problema como um extravio, fica a sensação de que o mal não é inerente, de que a bondade foi, provisoriamente, ofuscada e então fomos assaltados por ruindades estranhas à nossa índole. Em resumo: Somos bons. Excepcionalmente, agimos mal.
Noutro viés, quando lidamos com a hipótese da ruindade original, bate o desespero e a sensação de impotência. É desesperador porque, seguindo o curso natural das coisas, não podemos ser aquilo que nunca fomos, a menos que haja uma intervenção. Isso destroi nossa auto-suficiência.
Nos dois últimos parágrafos passei para o uso da primeira pessoa porque não me interessa fazer uma mera crítica política aos EUA. O que me interessa é aprender com os sinais que nos cercam. Acreditar que somos bons porque temos bons ideais é como um pato que pensa que é cisne porque acha bela a condição de cisne. Estar consciente da nossa condição original pode nos ajudar a evitar erros futuros.
Para não alongar o texto, quero encerrar com Chomsky: "As atuais revelações... expõem mais uma vez o conflito entre 'aquilo que representamos' e 'aquilo que fazemos'."
Oxalá aprendamos a trabalhar adequadamente esse conflito.
AFA Neto
quarta-feira, 6 de maio de 2009
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muito bom,
Parabéns
Excelente Neto. Não deixe sua voz calar.
Exatamente dos intelectuais, como você, é que Chomsky espera a indignação. Em um artigo que ele escreveu para o The New York Review of Books, ha mais de 40 anos ele diz que é responsabilidade dos intelectuais dizer a verdade e denunciar as mentiras, pois eles é que agregam as condições necessárias para analisar as ações do governo, suas causas e suas intenções escondidas.
Como voce mesmo disse no blog seu artigo não tinha a intenção de "fazer uma mera crítica política aos EUA". Então, que tal uma autocrítica a nossa própria história?História essa cheia de maracutaias, conchavos, CPIs... e por ai vai...
Voltando a Chomsky: politicamente ele se define, ou se definia, como um anarquista.
E na sua visão do termo, "anarquismo é a convicção de que a obrigação de se explicar é sempre da autoridade, e que esta deve ser destituída caso não consiga fazê-lo".
Abraços and keep up the good work.